Novo Prefeito, Velhas Lideranças

Passadas seis eleições para prefeito em Santa Quitéria, o cenário político continua o mesmo. Mudam os postulantes do cargo maior do executivo quiteriense mas as lideranças são as mesmas. Assim podemos identificar a existência de ciclos políticos, marcados pela perpetuação de líderes num determinado espaço de tempo. Já foi assim também no passado.

Luciano Lobo e Tomás Figueiredo - as duas únicas lideranças políticas de
SantaQuitéria há mais de vinte anos.

Na última eleição em que foi definido mais um novo prefeito, Fabiano Lobo, sob o ponto de vista histórico não se trata de uma mudança na política quiteriense ou do início de um novo ciclo, mas a continuação do ciclo atual que vem existindo nos últimos vinte e dois anos e que teve início com a primeira eleição de Tomás Figueiredo em 1992. Luciano Lobo, o outro protagonista desta história, mais uma vez inicia o revezamento que vem desde então com sua vitória na eleição de 1996. De lá para cá, estes dois únicos líderes da política local vêm fazendo este revezamento, sejam eles próprios ocupando o cargo de prefeito ou seus escolhidos. Assim como Chagas Mesquita substituiu Tomás Figueiredo, Fabiano substitui agora Luciano Lobo, tendo a sorte pela intermitência de mandatos de poder ser o candidato filho do próprio líder. Luciano poderia ter emplacado qualquer outro representante, assim como também Tomás o poderia na época em que escolheu Chagas Mesquita. Até mesmo o fato de Chagas Mesquita ter brigado com Tomás Figueiredo não desconfigurou a sua substituição, a não ser se Chagas tivesse vencido a última eleição, aí teríamos tido uma mudança, uma nova liderança, por que Chagas teria vencido "brigado" com Tomás e contra o próprio, além de Fabiano. Mas não foi isso que aconteceu. Mais uma vez a "terceira via" ou seja, uma terceira liderança não emplacou. Por Chagas ter sido o prefeito enquanto concorria, foi esta vez em que a "terceira via" mais tirou votos e ameaçou de fato concorrendo de igual pra igual com os dois velhos líderes. Mas, com a  vitória de Fabiano Lobo, continuamos no mesmo ciclo.

NOVAS LIDERANÇAS

Fabiano Lobo, atual prefeito e Joana Figueiredo, vereadora.
Será que se firmarão como novas lideranças ou  serão
apenas representantes de seus pais ?.

A previsão é que este ciclo continue por um bom tempo e que não tenhamos grandes mudanças, haja vista que Tomás Figueiredo já colocou sua filha Joana Figueiredo para substituir o papel que era de Chagas Mesquita, elegendo-a vereadora e deixando-a pronta para colocá-la na prefeitura quando der certo. E Fabiano, reelegendo-se prefeito, seria a representação mais uma vez de Luciano Lobo. Ou não? Dependendo do cenário político de cada um para as próximas eleições, poderíamos até supor algumas hipóteses em que estes se configurariam como novos líderes e não meros representantes de seus pais; como por exemplo, se concorressem contra seus próprios genitores políticos, caso em que aconteceu com Chagas Mesquita que brigou e concorreu com Tomás Figueiredo; ou então; se estes mesmos genitores não mais estivessem na nossa convivência, hipótese esta não desejada por nós. Mas, caso Fabiano ou Joana venha a concorrer com a mesma base de seus pais e com a ajuda destes, seria o caso de se afirmar que ambos estariam apenas representando os velhos líderes.
E como estamos falando de história política, vamos ao ciclo anterior, que teve como marco divisório o mandato do interventor Nazareno Damasceno Cavalcante indicado pelo governador na época Ciro Gomes, que substitui o prefeito cassado Enio Mesquita, este que foi o último prefeito do ciclo anterior. 

Neste ciclo, que durou também algumas décadas, existiram suas lideranças, ao contrário do atual, foram mais de duas: Xixi Parente (Francisco de Assis Parente), Zezé Benevides (José Benevides de Mesquita),  Arlinda Lôbo e Haroldo Martins. Este último, mesmo sendo escolhido por Xixi Parente como seu representante, se fez liderança porque rompeu com Xixi e fez seu sucessor, Enio Mesquita, que por ironia do destino tinha sido seu principal opositor e concorrente na eleição anterior em que se elegeu. Enio Mesquita não teve tempo de constituir-se como liderança, pois teve o mandato e seus direitos políticos cassados, daí a existência do interventor Nazareno Damasceno.
Tomás Figueiredo, eleito em 1992, apoiado por Nazareno, então representante do governador Ciro Gomes, começou o atual ciclo. Tomás nem figurava na política local, chegou e aqui ficou.

"BAGAGEM" POLÍTICA 

O peso do histórico político/familiar das duas lideranças atuais é grande e semelhante um ao do outro. Luciano Lobo foi prefeito de Santa Quitéria, teve o pai  também prefeito (Zezé Benevides), o seu avô e agora o seu filho. Também teve sua tia Arlinda Lobo prefeita, única mulher até hoje a comandar o município. Tomás Figueiredo foi prefeito de Santa Quitéria por três vezes, único eleito democraticamente nas três vezes (houveram outros, mas sendo interventores em algumas vezes); teve o pai, um irmão e o filho deputado estadual, respectivamente Chico Figueiredo, Alexandre Figueiredo e Tomás Filho e tem atualmente a sua filha vereadora do município. Também fez sua esposa deputada estadual, dona Cândida Figueiredo.   Portanto, motivos para serem as lideranças que são é que não falta.

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BARRAGEM EDSON QUEIROZ

Iniciada suas obras no início da década de 80, em plena transição política no Brasil, quando veio a assumir o poder no país o presidente José Sarney, vice de Tancredo Neves que morreu antes de tomar posse, o tão sonhado projeto do  Açude Serrote, nome popular dado à Barragem Edson Queiroz estava se realizando. O nome oficial é em homenagem ao magnata cearense morto num desastre de avião, por o mesmo ter sido construído em terras suas na então Fazenda Juá, hoje um assentamento (comunidade) de mesmo nome. Construído pela construtora Andrade Gutierrez e inaugurado em 1988 pelo então Presidente da República em exercício, Paes de Andrade que estava substituindo José Sarney numa viagem à Europa, o então quarto maior açude do estado na época colocava o município de Santa Quitéria em destaque na área de recursos hídricos. O prefeito à época era Haroldo Martins e que fez uma grande festa na sua inauguração, que além de Paes de Andrade contou com a presença da viúva de Edson Queiroz e presidenta do Grupo Edson Queiroz, dona Yolanda Queiroz, do Governador na época Tasso Jereissati e de sua esposa, a Primeira Dama Renata Jereissati, que por coincidência é filha de Edson Queiroz.

Na inauguração: Dona Yolanda Queiroz, Renata Jereissati e
 o Governador Tasso, o Presidente em exercício Paes
 de Andrade e o vereador Valter Farias.

O açude faz parte do sistema hídrico do Vale do Acaraú e tem 250 milhões de metros cúbicos (250.500.000m3) de capacidade. Após a construção do açude Castanhão no Vale do Jaguaribe, o Serrote perdeu uma posição e é atualmente o quinto maior  reservatório do estado, sendo os outros em ordem de tamanho os açudes: Castanhão, Orós, Banabuiú e o vizinho Araras. Vale destacar que na época de sua construção a cidade foi "invadida" por centenas de funcionários da Construtora Andrade Gutierrez que encontraram no recém construído conjunto habitacional Angélica Catunda (Cohab) a maioria de suas casas. Alias fizeram até uma quadra esportiva no mesmo (hoje já destruída) e que virou ponto de encontro em todas as noites. Este foi um fator que incentivou muito o desenvolvimento da cidade. As escolas, assim como todo o comércio local lucrou bastante com a chegada destas famílias com razoável poder aquisitivo, pois na maioria eram engenheiros e técnicos da construtora. Muitos deles gostaram tanto da cidade que aqui ficaram e criaram suas famílias, desenvolvendo outras atividades. Alguns grandes empresários da cidade atualmente chegaram com a Gutiérrez. E para os adolescentes da cidade, foi uma festa o grande número de novas moças e rapazes que chegaram.

Banhistas se divertem na sangria do açude

Com a construção de uma adutora de 17km de extensão, distância esta do açude a sede do município, pelo Governo do Estado, na época Ciro Gomes, o açude veio a solucionar definitivamente o problema de abastecimento d´água da cidade que a cada período de estiagem entrava em racionamento. Só por este motivo o Serrote já justifica sua existência. Já na agricultura ele não vem sendo bem utilizado, pois não há um único projeto de grande porte de irrigação, exceto algumas propriedades às margens do Rio Groaíras, rio que foi barrado pelo açude, e que são beneficiadas pelo fato de o rio ter ficado perene no trecho após o açude, pois a compota do açude libera água permanentemente, mesmo que em pouca quantidade. O mesmo acontece na psicultura e carcinocultura, sendo que não há nenhuma atividade nesta área, apenas a pesca artesanal feita por pescadores que moram às margens do mesmo. Nem mesmo para o lazer o açude é aproveitado, pois os precários balneários que apareceram desde a sua inauguração já foram fechados. E o banho no próprio açude é proibido pelo DNOCS, salvo no sangradouro quando o mesmo está sangrando, que recebe muitos banhistas e observadores do raro espetáculo. Além de Santa Quitéria, o Serrote abastece também a cidade de Taperuaba, distrito de Sobral; e há projeto que ele também abastecerá a Mina de Itataia e o distrito de Riacho das Pedras.
Outro fato que vale destacar é que com a sua existência o Serrote provocou a criação de dois povoados, o de São Cosme e de São Damião. Hoje os dois já contando além de mais de uma centena de casas cada,   com comércios, igreja e escola. O primeiro originou-se às margens do sangradouro e o outro às margens da CE que liga Santa Quitéria a Canindé, no trecho que corta o açude.
O Serrote sangrou apenas quatro vezes desde que foi construído, nos anos de 1989, 2004, 2008 e 2009.

AABB SANTA QUITÉRIA

A AABB em 1979 na sua inauguração

        Criada em São Paulo em 1934 por funcionários do Banco do Brasil e depois encampada pelo próprio Banco que chegou a implantar mais de 1.250 unidades em todo o país, chega em 1979 a AABB Santa Quitéria. Como o nome dizia, Associação Atlética do Banco do Brasil, um novo clube ao contrário do já existente Sport Club Quiteriense, pois não somente um clube de salão, mas um grande complexo de lazer com vários equipamentos esportivos e recreativos. Piscinas, campo de futebol, quadra poliesportiva, amplo salão de festas e eventos e ainda um anexo para tênis de mesa e sinucas, tudo isto acompanhado de restaurante com mesas à beira das piscinas. Uma revolução na cidade na área de lazer e entretenimento, ainda mais para os padrões da época. 

Crianças nas piscinas aos domingos

Assim a AABB tornou-se ponto oficial de lazer na cidade. Quem não foi passar um domingo tomando banho de piscina ou não namorou pelos seus mais variados ambientes nas tradicionais festas dançantes. Entre elas os chitões, as festas de setembro quando se comemorava o aniversário do Banco no município, os Reveillons e ainda, promovida pela UNISQ - uma extinta associação de universitários de Santa Quitéria, a Top Girl, uma festa dançante com desfile de beleza com concorrentes do sexo feminino de várias cidades da região. E as grandes bandas marcavam presença: Black Banda, Alta Tensão, Passaporte, Agitadores do Som, Sirano e Sirino e ainda de renome nacional que estiveram fazendo shows por aqui no auge de suas carreiras, como a banda Trepidants, Dominguinhos e Beto Barbosa. No show de Beto Barbosa, em 1990, a festa foi tão grande que foram colocadas mesas até em torno das piscinas, como nunca antes, bem distante do salão principal. E ainda havia as gincanas escolares, os campeonatos esportivos e os vesperais. Foram mais de duas décadas, as de 80 e 90 e ainda alguns anos depois, nos anos 2000 em que a AABB marcou história na vida de muita gente em Santa Quitéria.

Nos anos 2000, última tentativa de reanimar o clube, em vão.

Infelizmente, quando no final dos anos 90 com a reestruturação do Banco do Brasil pelo Governo Federal tendo no comando o Presidente Fernando Henrique, as AABBs de todo o Brasil deixaram de contar com o apoio financeiro do Banco e assim muitas entraram em dificuldade e tiveram que fechar suas portas, pois não conseguiram se tornar viáveis economicamente. E em Santa Quitéria não foi diferente. Por aqui a AABB fechou suas portas em 2003. Por último ainda houve uma tentativa de recuperação, com a instalação de toboáguas nas piscinas e reforma de seu prédio principal com a construção de um salão maior. Mesmo assim, o clube voltou a fechar as portas pouco tempo depois até hoje. Mesmo desativada há vários anos e com a estrutura sofrendo deterioração pelo tempo, há a  esperança que o clube volte a funcionar novamente, e como hoje a cidade está muito maior é bem possível que desta vez ele se torne viável economicamente. E mais uma curiosidade, a AABB funcionou originalmente antes da construção da sua sede, em um pequeno prédio duma casa adaptada, ao lado do que é hoje a agência do Banco do Brasil em Santa Quitéria, na esquina das ruas Cel. João Rodrigues Pinto e Cel. Antonio Ernesto. Lá sim, apenas com um bar e umas salas com sinucas.

SPORT CLUB QUITERIENSE

        Com nome charmoso o Sport Club Quiteriense já foi o maior e melhor clube de festas e eventos da cidade. Construído no começo dos anos 70 por sócios do Rotary Club Quiteriense, a moderna e grandiosa edificação para os padrões da época impressionava a todos. O prédio já foi mais largo ocupando o espaço do trecho da Rua Antonio Saboia que passa ao seu lado, pois na época a rua terminava ali. A diminuição se deu nos anos 90 com a continuação da rua forçada pelo crescimento da cidade. Para compensar, o clube foi aumentado nos fundos, ganhando mais um salão. 

O Sport Club nos tempos áureos, década de 80

Atualmente, funciona a CDL Santa Quitéria

        Além de servir para grandes aniversários, eventos escolares, quadrilhas juninas e convenções políticas, o Sport Club se destacou mesmo foi nas festas dançantes, diga-se os seus tradicionais chitões e carnavais realizados anualmente até quando o clube foi desativado para estas festas nos meados dos anos 90. Na época ainda não se tinha carnaval de rua como acontece atualmente e o Sport Club era o palco da grande festa, funcionando em todas as quatro noites de folia. Também aconteceram por lá as primeiras edições da "Festa das Personalidades" que é realizada até hoje e que no início constava de uma grande festa dançante com respeitadas orquestras da época, como a Banda Paulo de Tarso de Fortaleza. Inclusive o traje Passeio Completo (de terno e gravata) era obrigatório para todos os homens. As mulheres disputavam o vestido mais elegante. 

        Durante a última década o prédio ficou meio que no esquecimento, funcionando apenas para as pequenas reuniões semanais do Rotary, mas em 2010 foi reformado pelo CDL - Clube de Dirigentes Lojistas de Santa Quitéria através de uma parceria com o mesmo Rotary  e apesar de não voltar a reinar como antigamente com suas festas dançantes, pois para os padrões de hoje ele está pequeno, o velho Sport Club voltou a ter eventos importantes, inclusive a "Festa das Personalidades" que consta duma cerimônia de premiação e coquetel com música ao vivo. Congressos, seminários e convenções políticas voltaram também a acontecer. Lá também funciona atualmente durante o dia, a sede da CDL local.

O MUNICÍPIO DE SANTA QUITÉRIA

Praça Senador Pompeu em 1956, mais conhecida como Praça da Matriz

Santa Quitéria nos dias atuais

  O município de Santa Quitéria está localizado na região norte do estado do Ceará e conta atualmente com uma população estimada (2011), segundo o IPECE/IBGE de 42.793 habitantes e tem uma área de 4.258km2, sendo atualmente o maior em extensão territorial do Ceará. Já chegou a ter mais de 52.000 habitantes em 1980, quando ainda não tinha sido desmembrado e emancipado o atual município de Catunda. Desmembrado de Sobral, o município de Santa Quitéria foi criado em 27 de agosto de 1856. De lá para cá, já teve diminuída sua área para a criação dos municípios de Cariré (Povoado dos Guimarães - 1929), Monsenhor Tabosa (Serra das Matas), Hidrolândia (Cajazeiras dos Timbós e depois Batoque) 1957 e Catunda (Madalena) 1990. O clima é seco e quente, como a maioria dos municípios do estado excetuando-se os localizados em serras e no litoral. A sua vegetação é composta quase que totalmente pela caatinga. Os motores de sua economia são ainda a agricultura e pecuária, mas em menor destaque que no passado, concorrendo com a indústria de calçados e mineração. Está aqui no município a única jazida de granito branco do Brasil e uma das duas no mundo (a outra é na Turquia). No setor calçadista são quatro fábricas, Vitorine, Ravelle, Banas e Democrata. Esta última faz parte de um dos maiores grupos do setor no Brasil. Outra grande parte da renda vem dos funcionários públicos (Prefeitura e Estado) e dos aposentados do INSS. Santa Quitéria tem também a maior reserva de urânio e fosfato do país, mas ainda inexplorada. Tem seis distritos: Muribeca, Macaraú, Trapiá, Lisieux, Logradouro e Raimundo Martins. O de Muribeca quase que só existe oficialmente, se resumindo hoje a poucas casas. Já os demais crescem a cada dia e já desejam se emancipar, como é o caso de Lisieux, que já conta com estrutura como Correios, Posto Bancário, Posto de Gasolina e até uma rádio FM, entre outros equipamentos. Ainda conta com os povoados de São José dos Mocós, Saco do Belém, Sangradouro e Riacho das Pedras, que não perdem em tamanho para alguns distritos.

O Galpão dos Feirantes ao centro, no coração da cidade

Entre prefeitos e interventores, foram trinta e seis do primeiro, Lúcio Pinto de Mesquita até o atual Chagas Mesquita. Destes até hoje apenas uma mulher, Arlinda Lobo 1973-1976. Alguns exerceram mandato mais de uma vez: Francisco Carlos Martins, Francisco de Assis Lobo, José Benevides de Mesquita, Francisco de Assis Parente e Tomás Figueiredo. (Nas próximas matérias, detalhes de todos os prefeitos com as respectivas datas e ainda mais sobre a história do município).